Episódio 7. Crepúsculo
Sejam muito bem-vindos!
Também conhecido como Lourinho, foi aluno de Leopoldo Silva. Não foram encontrados dados sobre ano de nascimento e morte deste músico paulistano. É grande a possibilidade do seu sobrenome ter se confundido com o do célebre violonista Américo Jacomino, o Canhoto, embora não haja relação de parentesco entre os dois violonistas.
Existem registros que o identificam também como Antônio Jacomino ou ainda Jacomini. Nesse período, os nomes estrangeiros eram mal compreendidos e registrados com alterações e erros, gerando uma série de alterações e multiplicidades, sobretudo de sobrenomes.
O jornal A Gazeta, em 1931, em ocasião do Grande Concurso de Música Brasileira[1], publicou um perfil de Giacomino, com o subtítulo de “Um virtuose do violão”, do qual destacamos o seguinte trecho:
Giacomino nasceu em S. Paulo […]. Estreando em um lindo festival do nosso Conservatório, Giacomino já realizou com sucesso diversas excursões pelo interior do nosso Estado […] Giacomino nos oferece ainda uma circunstância interessante: embora possuindo este nome, nenhum parentesco há entre ele e o saudoso Jacomino (Canhoto) […] Exímio intérprete do violão, Antônio Giacomino (Lourinho), constitui uma revelação da arte brasileira. O seu método é o de Dionísio Aguado. A sua especialidade, a música estrangeira. Não importa que assim seja: mormente quando sabemos que, de quando em vez, ele nos delicia com os acordes caprichosos de seus originais, entre os quais destacamos: Uma noite na roça (cateretê), Meiranita, (valsa) e Cruzeiro do Sul, (marcha).
[1]A Gazeta, São Paulo, ano XXV, n. 7551, 13 abril 1931, p. 2.
É surpreendente a difusão da obra de Giacomino em manuscritos para piano, o que não era usual. A circulação de obras para violão em versões editadas para teclado é compreensível, uma vez que o mercado de partituras para piano já era consolidado, representando uma possibilidade comercial para os compositores violonistas divulgarem suas obras. No entanto, o trânsito de obras para violão transcritas para piano indica uma divulgação da obra entre os pianistas, independente dos mecanismos tradicionais de distribuição.
Antônio Giacomino realizou ainda a primeira edição para violão da célebre valsa Abismo de Rosas de Américo Jacomino, em 1936, pela editora Derosa, a edição foi baseada na em uma versão para piano da peça (c. 1918). Suas valsas e mazurcas traduzem bem o ambiente seresteiro da virada do século XIX para o XX. Giacomino foi importante no estabelecimento do circuito de impressão de partituras para violão, tendo publicado muitas obras para violão naquele período. Além disto, a difusão da sua obra extrapolou o mundo do violão e alcançou o do piano.
Ele deve ter sido bastante próximo do violonista paraguaio Agustín Barrios, pois compôs a música Recordações de Agustín Barrios, que traz o subtítulo in memorian, a partitura foi editada[2] no ano de 1936. Tratava-se de uma homenagem “póstuma” para Agustín Barrios. Giacomino foi movido certamente pela falsa notícia da morte de Barrios que, em 1934, circulou na imprensa do México e da Venezuela. Nesse período, em verdade, Barrios estava na Europa e sua morte ocorreria somente dez anos depois[3].
Deixou dois discos, registrando quatro músicas, sendo elas Mimosa, de Isidoro Bacelar e o cateretê Festa na Fazenda, de autoria própria, em 1932 e, em 1936, Solidão e a já citada Recordações de A. Barrios, ambas composições próprias.
[2] Há uma discrepância entre o gênero que consta na partitura, adagio, e a do disco, prelúdio. É bem provável que a mudança tenha relação com a necessidade de adequação para o formato da gravação, pois executada em andamento mais lento, o adágio, mais pertinente a uma homenagem póstuma, aumentaria a minutagem, tornando impossível o registro em disco.
[3] STOVER, Richard Dwight. Six Silver Moonbeams: The Life and Times of Agustín Barrios Mangoré. California: Querico Pubns, 1992, p. 51-53.
Crepúsculo é um belo indício da razão da obra de Giacomino ter extrapolado o circuito do violão. Trata-se de uma mazurca contagiante, que consegue manter em suas três partes o clima dançante, vivo e brilhante, aliado a melodias inspiradas que grudam no ouvido. Composta em forma rondó, ABACA, a primeira em ré maior, a segunda em si menor e o trio em sol maior. Destaque para a melodia do baixo no trio, bom exemplo da facilidade do compositor em escrever linhas melódicas cativantes.
Ouça o episódio completo:
Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar
Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.
Músicas incidentais: Festa na Fazenda (Antônio Giacomino) Gênero: Cataretê Ano: 1932 Disco: Art Fone Matriz: 4037A
Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando
Ouça a peça Crepúsculo no álbum Violões na Velha São Paulo:
Veja no Youtube, a peça registrada em vídeo:
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