Episódio 1. Lágrimas de Saudades
Sejam muito bem-vindos!
Neste primeiro episódio, vamos tratar da obra Lágrimas de Saudades! , uma valsa de Venâncio José Gomes da Costa Junior, dedicada aos Acadêmicos de São Paulo.
Na cidade de São Paulo, o circuito de partituras para o violão teve início somente na década de 1930. Parte dessa produção chegou até os dias atuais via manuscritos, ou em versões para piano, caso da peça Lágrimas de Saudades!, de Venâncio José Gomes da Costa Junior ou Venancinho Costa, como era conhecido. Ele entrou para a Academia de Direito em 1862, sendo contemporâneo e parceiro do poeta Fagundes Varela. Venâncio era compositor, hábil violonista e dividiu com o poeta Varela noitadas, boemia e a autoria de modinhas e serenatas, entre as quais Noite Saudosa.
Certo, o leitor não chegou a conhecer o ultra-violonista da Pauliceia desse tempo, o Venâncio, que era mestre neste instrumento e que, quando tocava […] se esquecia de si e dos outros e perdia a noção da realidade, fazendo roncar o bordão metálico ou fazendo gargalhar a prima, numa risada estridente, de comoção nervosa; e talvez mesmo nem chegasse a ouvir o Theotonio, outro violonista de valia, que na S. Paulo de antanho fez época, sendo extraordinário, sobretudo, no “Canto da Coruja”, que a gente ouvia e tinha a ilusão auditiva de que estava ouvindo aquele agoureiro pássaro noturno, em noite alta, a fazer tremer de medo os supersticiosos, com seu lamentoso gemido. Onde está o violão desse tempo? Hoje em dia só conhecemos o Américo Jacomino, apelidado de “Canhoto”, que ainda mantém algo da tradição desses violonistas, mas esse mesmo já com certos laivos de “civilizado”, com tendências de seguir a moda dos violonistas que executam Bach, Beethoven, Schubert e outros autores de nomeada[1].
Este trecho, retirado de um artigo de autoria anônima (1919), aponta para o cultivo do violão na São Paulo oitocentista, ainda no período imperial. Uma tradição que teria sido herdada, mesmo com certas ressalvas, segundo o autor, pelo célebre violonista paulistano, Américo Jacomino. De acordo com o magistrado Afonso José de Carvalho, abundavam violões e violonistas àquela altura na província de São Paulo. Na conferência “São Paulo Antigo”, proferida no Clube Piratininga (1936), ao falar da febre das modinhas que invadiu o país no fim do século XIX, disparou:
Antes de chegarem pianos a São Paulo, o violão triunfava sem porfia, e a modinha gemia dentro de casa, ou nas esquinas, por noites de lua, a romantizar a vida, a dizer as queixas contra as ingratas e a recordar amores idos e sentidos, de que ficaram saudades chorosas.[2]
[1] Correio Paulistano, São Paulo, ano LVII, n. 20092, 12 jun. 1919, p. 3.
[2] A conferência foi publicada na revista do IHGSP: CARVALHO. Afonso José de. São Paulo Antigo (1882 -1886). São Paulo: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Nacional, v. XLI, p. 47-64, 1942.
Os indícios de uma atividade violonística e de uma rede de sociabilidades ligadas ao instrumento em São Paulo aparecem com o estabelecimento do curso de direito em 1828. Com ele, a cidade recebeu estudantes de diversas localidades do país que trouxeram instrumentos musicais, promoveram saraus e serestas, encenaram peças teatrais e fundaram jornais, fundamentais para o rastreamento das atividades do passado. O curso do Direito do Largo do São Francisco, portanto, transformou a vida cultural da pequena e isolada cidade de menos de 20.000 habitantes e foi determinante para o desenvolvimento musical e para o cultivo do violão na cidade.
Ouça o episódio completo:
Músicas incidentais: Rapaziada do Brás, Alberto Marino. Violão, Flavia Prando; Violão 7 cordas, Lamartine Jr.
Noite Saudosa, Venâncio José Gomes da Costa Jr e Fagundes Varela. Viola de arame, Gisela Nogueira; violão romântico, Giacomo Bartoloni, canto Sandro Bodilon (Em São Paulo: Paisagens Sonoras (1830-1880) | Anna Maria Kieffer, Selo Sesc).
Ouça a peça de abertura do álbum Violões na Velha São Paulo, a obra recebeu versão para violão de Edmar Fenício e foi registrada em instrumento de época, um violão romântico, do final do século XIX, de construtor anônimo:
Veja no Youtube, a peça registrada em vídeo:
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