Histórias dos Violões na Velha São Paulo, ep.3

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Praxedes Gil-Orozco e seu violão Antonio Torres, de 11 cordas

No episódio de hoje, vamos falar sobre a valsa Recuerdos de Pernambuco, de Praxedes Gil-Orozco (1857 – 1916)

Práxedes Gil-Orozco Bastidas foi um músico espanhol, da região de Valencia, cidade de Requena. Em 1889, ele embarcou com Martinez Toboso rumo à América Latina para uma série de concertos em duo, notadamente na Venezuela, Barbados, Trinidad y Tobago e Brasil. No Brasil, chegaram em meados de 1889, e há farta documentação em periódicos locais sobre a passagem do duo por diversos estados brasileiros: Rio de Janeiro, Pará, Maranhão, Fortaleza, Recife, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais. Em São Paulo fizeram duas séries de concertos. A primeira foi em junho de 1890 e retornaram à cidade em   novembro/dezembro do mesmo ano, desta vez apresentando-se em trio com a violinista italiana Giulietta Dionesi, recebendo críticas favoráveis do compositor Alexandre Levy:



[1] Correio Paulistano, São Paulo, ano XXXVI, n. 10121, p. 2, 04 jun. 1890.

Em 1890, Martínez Toboso continuou seu giro solitário pelo continente americano, pois Gil-Orozco decidiu fixar residência em São Paulo, tendo sido um dos fundadores do diário La Iberia (1892), periódico em espanhol para a colônia de imigrantes residentes na cidade e de diversas associações de apoio aos imigrantes espanhois. Gil-Orozco foi fundamental para a história do violão paulistano, sendo reconhecido como o primeiro violonista a realizar concertos solo na cidade. Representou comercialmente, a partir de 1901, a Pascual Roch & Cia, fábrica de violões com sede em Valencia, na Espanha. Foi também proprietário de uma fábrica de cordas, A Torcedoura Valenciana de Orozco & Blanes situada no bairro da Mooca, inaugurada em 1903. 

Em 1906, ele participou de um recital no Salão Steinway, ao lado dos mais importantes músicos locais, uma prática que caminha na contramão do discurso dominante da historiografia nacional, que posicionou o violão, quase exclusivamente, como instrumento marginalizado na sociedade brasileira.



[1] Jornal Correio Paulistano, São Paulo, ano XLVIII, n. 15536, p. 3, 18nov.1906.

Gil-Orozco deixou mais duas composições além da valsa Recuerdo de Pernambuco: Gavota e Maria (mazurca). Há ainda uma peça perdida, La Gitanilla. Recuerdo de Pernambuco é uma evidente alusão ao estado do nordeste brasileiro, onde realizou recitais com José Martinez Toboso.

A valsa, com indicação de andamento moderato, é uma peça brilhante e dançante. É composta de duas partes (AB), em forma ternária (ABA), sendo a primeira (A) em lá maior e a segunda (B) em mi maior. A peça foi dedicada a Fernando Martinez Checa (1858-1933), pintor espanhol, da mesma cidade valenciana que Gil-Orozco, Requena.

Acesse o artigo Presença de violonistas espanhóis em São Paulo no século XIX, escrito por Flavia Prando

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Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar
Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando. Músicas incidentais: Gavota e Maria, mazurca de Praxedes Gil-Orozco, Flavia Prando, violão. Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando
FLAVIA PRANDO Escrito por:

Violonista, doutora e mestre em Música pela USP e bacharel em Música UNESP. É Pesquisadora no CPF-SESC e atua como regente da Camerata de Violões Infanto-Juvenil do Projeto Guri Santa Marcelina.

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